segunda-feira, 26 de março de 2007

Encontro de 22.03.07

Assistiram Carla, Luciana, Ireni, Pedro e Rafael.

Começamos falando do projeto estético das escritoras Fernanda Laguna (Dalia Rosseti) e Cecilia Pavon, das características de sua escritura, da revista “Ceci & Fer”, da forma em que encaram a própria atividade literária e as possibilidades políticas de sua proposta.

Algumas perguntas que surgiram na discussão: trata-se simplesmente de uma “literatura de chicas” (a expressão é de Gonzalo Aguilar) ou existe uma proposta estética de fundo? Quais são os limites entre a parodia, a ironia ou a simplicidade de sua poesia (em outras palavras: “¿se rien conmigo o se rien de mi?)” Que tipo de proposta política é essa (uma política da escritura?) e quais as diferencias com outras escritas políticas.

Incluímos depois o caso de Cucurto e de Efraim Medina para discutir as características gerais destes autores/as destacando as seguintes idéias:
- São textos sem (ou pouco) trabalho intertextual (excetuando o caso de Efraim Medina que, embora afirme em suas declarações não ter uma relação estreita com a tradição literária, em seus textos abundam referências intertextuais)
- O “livro” parece não estar no centro das preocupações destes autores
- Existem outros referentes culturais mais fortes como a música, a internet, o cinema, a tv.
- O aspecto “biográfico” é central, são autoras/es que colocam sua vida em jogo na escritura (embora se discutiu qual “eu” é esse que aparece nos textos: um “eu biográfico-empírico” um “eu encenado”, um “eu personagem literário”?)
- São textos e escritores que tem uma postura lúdica, irreverente e as vezes “irrespetuosa” com a tradição literária
- A questão do “grupo de amigos” ou da amizade apareceu como um tema central para estes autores/as. Parece como si sua escrita estivesse dirigida a seu próprio grupo de amigos e fosse possível graças a uma primeira circulação nesse grupo (que depois pode-se ampliar). Neste sentido falamos da possibilidade de analisar textos referentes a amizade como limite para estudar a literatura, foi proposto o texto de Bataille “Conjura sagrada”.
- Parece existir uma maior referência destes escritores sobre o Brasil, isto é, constatamos a presencia de personagens que transitam frequentemente por territórios brasileiros ou referencias gerais sobre o Brasil e a cultura brasileira (pelo menos nos escritores do “sul”, da Argentina e do Chile)
- O tema da “performance” também foi um ponto que se destacou na análise destas escritoras/es. Além dos casos de Cecilia Pavon, Fernanda Laguna, Efraim Medina, e Cucurto incluímos o caso do chileno Pedro Lemebel como representativo da tendência performática.

Falando do caso específico do Cucurto a discussão se enfocou para a questão problemática da representação do outro por parte do intelectual/escritor. Para alguns a visão de Cucurto sobre a cumbia seria uma visão de uma pessoa externa, de classe media, que tenderia a uma exotização da cumbia. Em termos gerais a pergunta que surgiu foi se esse tipo de literatura estaria dando realmente voz às classes populares, e por outro lado, quem é em definitiva o receptor dessa mensagem: os leitores de Cucurto seriam um grupo restringido de intelectuais e o gesto ficaria sob o estigma do “snob”? (Se comparou este caso com o caso de Artl sublinhando que Artl escrevia em periódicos que estavam dirigidos às classes populares) Se destacou que no caso de Cucurto, embora não seja o caso de um autor como Cristian DiNapoli que faz parte do mesmo “grupo”, o intelectual não aparece reflexionando sobre essa interpretação do outro, aspecto que seria diferente de épocas anteriores.

Retomando o texto da Flora Sussekind “Literatura e vida literária” tentamos relacionar esta nova poesia do “eu” com a poesia do “eu” dos anos 70 no Brasil analisada por Flora (Chacal, Cacaso, Leminski, Ledusha); a comparação foi sugerida mas não deu tempo para aprofundar nela ficando como tema para o próximo encontro.

Ficaram para o próximo encontro novamente os textos de Italo Calvino “Leveza” e “Rapidez” das “Seis propostas para o próximo milenio”; o texto de Piglia “Tres propuestas e cinco dificuldades”; o texto da Flora Sussekind sobre a poesia do eu em “Literatura e vida literária”; e o texto de Silviano Santiago “Em estado de continua travessia” em “Nas malhas da letra”.

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